domingo, 19 de julho de 2009

Igual ao Eduardismo....o Mobutismo



Fonte: Angola24Horas


Sem que saiba-se realmente porque, o debate em torno do eduardismo tomou uma dimensâo considerável. Nâo quero repetir aqui o que dezenas de intelectuais, sociológos e eminentes personalidades, disseram ou escreveram sobre o assunto.

Observo apenas que neste interessante debate, estamos em presença de duas tendências que enfrentam-se com uma violência epistolar extrema. Nesta configuraçâo, de um lado há os aduladores que crêem que o eduardismo é um dom do céu, e do outro lado, os que pensam o contrário.

Entre as duas tendências, há os que sem paixâo, à luz das opiniôes das duas tendências, tentam em toda humildade encontrar o justo meio olhando para além das suas modestas pessoas.

Porque, contrariamente ao Marxismo ou Leninismo que sâo concepçôes políticas, filosóficas e sociais, o Eduardismo é simplesmente um conjunto de comportamentos vils e antidemocráticos que esmagam e restrigem os mais fracos favocerendo os mais ricos. Em África e no mundo, encontra-se o seu similar apenas no Zaire de Mobutu onde as populaçôes viveram durante decénios em baixo do mobutismo.

Confesso que a semelhança entre ambos pode provocar sorrisos. Os dois nâo têm a mesma trajetória nem a mesma historia. No entanto, a análise das condiçôes que conduziram à eclosâo e consolidaçâo do eduardismo nas praticas de governo em Angola, revela muita semelhança com o processo que conduziu à implantaçâo do mobutismo no Zaire.

Fortuita coincidência ou desvio deliberado ? O eduardismo é compatível à social democracia que é a doutrina política do Mpla? Essas interrogaçôes merecem que parávamo-nos um momento sobre esta surpreendente semelhança e examinávamos como os germes do mubutismo, mesmo sob uma outra variante, instalaram-se nos costumes dos governantes angolanos.

Para além das condiçôes muito particulares ( sem eleiçôes) que favoreceram o acesso ao poder de Joseph D.Mobutu e de José E.dos Santos (notaram certamente a homonímia dos prenomes) a analogia entre os dois situa-se na sua maneira de governar e de perpetuar o poder. Em Kinshasa e em Luanda, o MPR ( Movimento Popular...) e o MPLA (Movimento Popular...) reinam em mestres absolutos.

O que, logicamente, provoca sediçôes nos dois países, gerando o endurecimento do poder sob o pretexto de salvaguardar a integridade territorial. Perante a opiniâo pública, os dois lideres, chefes de partido único, sâo inflexíveis às revendicaçôes dos rebeldes. É sob a pressâo internacional que eleiçôes simuladas sâo organizadas para beneficiar da legalidade.

As assembleias procedentes dessas eleiçôes nâo passam de caixas de ressonância dos partidos no poder. Os deputados nomeados pelo presidente do partido-Estado devem-lhe fidelidade e obediênçia. Pois, a sua nomeaçâo ou isençâo depende do seu bom humor. Exactamente como na época de Louis XIV em França. Nas altas esferas do poder, apareceu uma nova classe social « os comem tudo », lisonjeadores que gravitam em torno do presidente fomentando intrigas. Todas riquezas do país, produto do suor de gente pobre, sâo concentradas nas mâos desses « comem tudo » e das suas familias.

Nestas condiçôes de sujeiçâo, ninguém, digo bem, ninguém nâo ousa atribuir-se o sucesso de um projeto ou de uma iniciativa. Qualquer sucesso é atribuido ao Chefe de quem todos dependem. É o culto da personalidade, alicerce do mobutismo de ontem e do eduardismo de hoje cuja diferênça, para um ingéniou, é dificil interpretar. É na pratica que as convergências dos ambos aparecem melhor.

A corupçâo, a impunidade, o culto da personalidade, a cultura da mistificaçâo, a intolerância política, o roubo e desvio dos fundos públicos....A semelhança nâo para là. Em Kinshasa e em Luanda, os filhos e filhas do Chefe comportam-se como califas no lugar do Califa. Dado que o pai é chefe, os filhos, a esposa, os irmâos, as irmâs, os primos e a familia da esposa, sâo todos chefes. Eles estâo acima das leis e beneficiam, como o Chefe, nâo só de uma imunidade mas de todos direitos e sâo isentos de todos deveres. Nas listas eleitorais, eles estâo presentes mesmo se eles nâo têm nenhuma noçâo da política nem do papel de deputado.

É incrível como o Mpla de JES assemelha-se ao Mpr de Mobutu. A proximidade pode ser contagiosa? Neste caso preciso, o meu amigo Kibuba diz nâo. Há uma outra explicaçâo.

« O Mpla nâo foi fundado para conduzir-nos ao eduardismo » confiava-me o meu amigo sociológo e simpatizante do Mpla. As vozes das iminentes personalidades que condenam as praticas eduardistas em Angola é o resultado, de acordo com este mesmo sociológo, de um processo normal da evoluçâo de grupo. Quem tem noçâo da teoria da evoluçâo de grupo, nâo deve ter dificuldade para aprovar este argumento. O estado de graça que beneficiou ao Mpla durante estes anos acabou por atingir os seus limites, é normal que aparecem contestaçôes no seu seio.

Nâo é inveja nem frustraçâo. É assim de todas coisas humanas, desfazem-se pouco a pouco por erosâo inevitável. O Mpr de Mobutu conheceu, em 1980, pela primeira vez, um intenso movimento de contestaçâo interna cujas consequências foram dramáticas. Espero que o mesmo nâo vem acontecer em Angola. Pois, para os observadores da política angolana, o tempo é da
mudança. As vozes discordantes no seio do Mpla é o inicio de um novo ciclo.
O fim do êxodo de milhares de homens e mulheres que fugiram a hipocrisia de um sistema que nâo tem outro objectivo que de perpetuar os privilégios de uma classe de lisonjeadores bem piores que nâo tinham sido os aristocratas do antigo regime russo. O eduardismo....

Eduardo M. Scotty.




Comentário:Qualquer semelhança é pura ilusão óptica, ou na cabecinha de alguns, tentativa de «denegrir a imagem do todo poderoso Eduardo Cabecinha Pensadora»