quinta-feira, 20 de agosto de 2009

China em África - Exploração Sul-Sul?


Fonte: mwglobal.org

Servaas van den Bosch

WINDHOEK - É domingo, por volta das cinco horas da tarde, quando o carpinteiro Thomas Haimbodi deixa o trabalho. Está à espera da carrinha que o vai levar, juntamente com os colegas, do local de construção – o prédio de escritórios do novo Ministério da Terra e Reintegração em Windhoek – para Katutura, cidade dormitório nos arredores da capital da Namíbia.
“Trabalho nove horas por dia, sete dias por semana”, disse Haimbodi. “Nem todos nós fazemos isso, mas eu preciso de trabalhar horas extraordinárias”. Os empregadores chineses encorajam essas horas de trabalho terríveis. “Ele oferece um acordo informal que é um pouco mais do que o salário normal”. No caso de Haimbodi, “normal” são 10 doláres por dia.

A maioria ganha muito menos do que isso, mas a chocante taxa de desemprego da Namíbia, rondando os 40 por cento, torna difícil dizer não a qualquer tipo de trabalho.

O empregador de Haimbodi, a China Nanjing International, tem orgulho em oferecer “Construção de Qualidade para o Desenvolvimento Nacional”, segundo um grande cartaz no local de construção.

Contudo, as companhias de construção namibianas locais levaram a Nanjing International a tribunal devido à adjudicação de um contrato governamental de 8.7 milhões de doláres que acreditam ter sido concedido incorrectamente – não tendo, porém, conseguido obter quaisquer resultados positivos.

“As companhias estatais chinesas (CECs) eliminam as companhias locais porque desrespeitam a legislação laboral”, explicou Herbert Jauch, do Instituto dos Recursos e Pesquisa Laboral da Namíbia (LaRRI). Ele é co-editor de um estudo sobre os investimentos chineses em África e o seu impacto no mercado de trabalho, estudo esse que vai ser publicado brevemente.

O estudo revela que os efeitos laterais da política de “Olhar para o Oriente”, que muitos países africanos adoptaram, é alarmante.

Dez países da África Austral participaram no estudo, elaborado pela Rede de Investigação sobre a Mão-de-Obra Africana (ALRN). “No caso da Namíbia, descobrimos que, em 2008, a maior parte das companhias de construção chinesas pagava 35 cêntimos do dólar por hora aos trabalhadores, enquanto que o salário minimo nacional neste sector é um dólar”.

Segundo Jauch, quase 70 por cento dos grandes projectos de construção são controlados por companhias chinesas. “Frequentemente não têm a documentação necessária, como os certificados de igualdade de trabalho, mas continuam a receber valiosos contratos”.

Os investigadores africanos lamentam a perda de empregos que resulta do uso de um grande número de trabalhadores chineses em projectos de construção no continente, assim como a concorrência causada pela importação de produtos baratos “nas lojas chinesas”.

Os investigadores explicam que a “China deu importância aos benefícios políticos e económicos e apresentou-se como parceiro económico atraente e amigo político”.
“Para os governos africanos, isto representou numa alternativa ao chamado ‘consenso de Washington’, sendo agora intitulado ‘consenso de Beijing’, isto é, apoio sem interferência em assuntos internos”.

O estudo revela que os investimentos chineses em África estão concentrados em sectores como energia, mineração, manufactura, construção, retalho e sector financeiro. Os principais alvos são a África do Sul, Egipto, Nigéria e Gana.

A China é o terceiro maior parceiro comercial do continente, depois dos Estados Unidos e da França. Porém, África absorve só três por cento do investimento externo directo chinês.

No terreno, os investimentos chineses têm causado problemas.

“Existe um padrão de práticas laborais injustas, falta de cumprimento dos regulamentos locais, violação de convenções internacionais, violações de práticas bancárias e regulamentos cambiais, salários baixos e uma completa ausência de benefícios e de contratos”, disse Jauch à IPS.

A China oferece incentivos atraentes aos governos de forma a conseguir que os mesmos abram as portas ao investimento. Por exemplo, o volume do comércio entre a Namíbia e a China é de 400 milhões de doláres mas, acima deste montante, o Presidente chinês, Hu Jintao, concedeu um empréstimo de 100 milhões de doláres ao país, e ainda uma linha de crédito no valor de 72 milhões de dólares.

Em troca dessa ajuda destinada ao desenvolvimento, explica Jauch, o governo chinês tem fácil acesso aos mercados africanos – algo que precisa agora mais do que nunca.

‘‘A situação de desemprego na China, exacerbada pela crise do crédito, resulta no envio, pelo governo china, de um grande número de trabalhadores para o estrangeiro”, explica Jauch. “Estes trabalhadores normalmente ganham mais que os seus congéneres africanos”.

O estudo sobre o caso namibiano menciona rumores persistentes de prisoneiros chineses que são transferidos para trabalharem em projectos em África.

O proprietário de uma companhia de construção, que fala Oshiwambo, confirmou esta situação à IPS. “Temos dificuldade em obter empregos do governo, ao passo que os chineses usam barcos para transportarem contentores cheios de prisoneiros para trabalharem em projectos públicos”.

No local onde Haimbodi trabalha, em Windhoek, existem 15 capatazes, todos chineses. “A comunicação é um grande problema”, queixa-se Haimbodi. “É uma mistura de inglês mal falado e gestos. Claro que, quando nos insultam na sua própria língua, percebemos a mensagem”.

Haimbodi e os colegas queixam-se dos baixos salários, da ausência de sindicalização, de relações laborais tensas e da falta de vestuário protector adequado. “Olhem para os pés deles”, diz Haimbodi quando se refere aos colegas. “Usam sandálias abertas”.

Hou Xue Cheng é dono de uma loja na cidade chinesa localizada na zona industrial de Windhoek, onde vende legumes produzidos na sua exploração agrícola situada fora da cidade. Segundo ele, os seus 20 trabalhadores namibianos ganham perto de 50 doláres por mês. “Não há qualquer problema, estão contentes”, insiste.

A legislação namibiana não contempla um salário mínimo.

Hou não concede contratos. “Frequentemente, os trabalhadores roubam e isso é um grande problema. Tive de contratar seguranças. Se as pessoas tiverem contratos, podem apresentar queixa ao comissário do trabalho. Eu não quero isso. Se alguém roubar, é despedido. É tão simples quanto isso”.

Além dos legumas, a loja de Hou vende de tudo, desde produtos para cabelo até bebidas alcoólicas – todos os produtos com rótulos em cantonês e cuidadosamente acondicionados em filas de prateleiras.

Este proprietário acredita que os namibianos não são muito produtivos. “Vão cedo para casa no fim de semana mas nós ficamos aqui, sete dias por semana até as oito da noite. É necessário porque as pessoas trabalham durante a semana e querem fazer compras no fim de semana”.

Jauch contesta estas opiniões acerca da produtividade. “Um estudo do Banco Mundial de 2007 mostra que os trabalhadores namibianos estão bem colocados a este respeito na África Sub-Saariana”.

O facto de os produtos e serviços chineses terem virtualmente acesso ilimitado aos mercados africanos é uma “contradição”, se se tomar em consideração as difíceis negociações referentes a um acordo de parceria económica (EPA) com a União Europeia, sustente Jauch.

“Aquilo que está a ser promovido como comércio sul-sul são, de facto, práticas altamente exploradoras. Os chineses têm a oportunidade de jogar este jogo a seu favor”.




Comentário: Os países africanos que estiveram sujeitos à colonização dos europeus, queixavam-se que eram explorados e maltratados.Com a descolonização era de esperar que este tipo de queixas deixasse de existir.Só que, a China, é uma potência, que não dorme em serviço.Está sempre, à espreita de uma oportunidade para meter o bedelho. Principalmente em países africanos com democracias de fachada e frágeis, onde a China sabe, como e onde, deve actuar, para tornar-se na principal potência colonizadora da nova era.

Não é de estranhar este tipo de lamentações, para além de ser um grande problema de difícil resolução a curto prazo.A China, é uma praga.Um mal, que diz vir por bem, quando se trata de dominar o mercado mundial, nomedamente na exploração e na cobiça das riquezas naturais dos países invasores, como por exemplo, os minérios.

África, uma bomba chinesa, pronta a explodir.Que ninguém tem a coragem suficiente para carregar no botão e accionar a explosão.A China, é um parceiro de respeito e temido, pelas razões que são sobejamente conhecidas.

África, continua a caminhar no mesmo rumo que sempre rumou.O rumo, da perdição de uns e de outros.Da pobreza e da ganância.


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