quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lobito, 100 anos sem nada

 

 
A cidade do Lobito está em plena comemoração dos seus cem anos, alguém já reparou? Mas é isso mesmo, se não se nota pelo menos o marco é este mesmo.
A cidade fecha-se por volta das vinte horas, nada de espectáculos.No fim-de-semana nada de festas de rua, nem teatro de rua, nem corridas de sacos, nem rali-papers, nada.Pelos vistos, o programa previsto está mesmo previsto (porque não se vê) apenas para ser executado pela administração, ou controlado, quando nestas coisas a actividade deve ser da comunidade.Não acredito que as associações de estudantes, culturais e recreativas estejam tão secas de imaginação.Nem concurso de melhor jardim há.Aí as casas ficariam mais bonitas.Há habitantes da cidade que nem suspeitam do centenário que se “vive”.
As exposições de arte, os saraus culturais, as sessões de poesia, a mostra fotográfica sobre a urbe, as actividades para as crianças das escolas, como sessões de contos infantis… onde está aquilo que mostra que uma cidade está a viver a festa dos seus cem anos?Que grande desperdício. Nem grandes outdoors, enfim…
Mas esta crónica não pretende desmoralizar quem queira visitar a cidade, haverá certamente espaço para as raves e maratonas.Há hotéis novos, as ruas estão limpas, continua a beber-se muito - o emprego falta.Como uma boa programação das festas poderia ocupar muita gente…As praias mantêm-se convidativas.Há encantos do Lobito que nem a inércia cultural (ou incompetência?) da administração consegue apagar.Quanto ao resto, tipo programação cultural e roteiros, arranje-se.
No entanto, escolha bem o seu hotel.Caros são todos, é normal em Angola.Os empresários angolanos da hotelaria resolveram que cada cliente traz diamantes nos bolsos e é um excelente alvo a assaltar. Aliás, acho que eles julgam que as pessoas se sentirão ofendidas se os preços forem pelo menos razoáveis.E agora então que têm de pagar a “consultores” aqueles preços….Um destes dias o negócio fale e o consultor vai embora com o seu pé-de-meia feito. O resto que vá para o desemprego.
O nosso empresário hoteleiro prefere ter a casa às moscas a fazer promoções que atraiam jovens estudantes, por exemplo.As férias, época baixa e época alta são coisas que não lhes dizem nada.No limite poderemos dizer que esta malta está a sabotar qualquer esforço para que os jovens viagem pelo país, para que descubram oportunidades noutras regiões e busquem fixar-se nelas.
Se os preços são altíssimos, já o serviço prestado, por favor, é absolutamente sofrível. No fim-de-semana passado estive num hotel do Lobito onde se alguém solicitar o serviço de quarto paga o alimento que pede e o serviço.Então, para uma tosta que custa oitocentos kwanzas (vejam o absurdo), se o empregado a for levar ao quarto a taxa é de dois mil kwanzas.
Neste mesmo hotel uma refeição feita de um prego no pão (um pão pequenino) e um galão vai aos três mil kwanzas.E não é que no balcão estavam umas baratas todas dengosas a passear a sua imundice?Calma, diz o empregado, isso é normal, qualquer hotel do mundo tem baratas e ratos, é por isso que temos aqui esta lata de insecticida.
 
José Kaliengue

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