segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Camponeses do Huambo exigem igual distribuição da riqueza



HENRIQUE BOTEQUILHA, no Huambo
Jornalista da agência LUSA

Angola. A uma semana das legislativas, os habitantes da província do Huambo, ainda com a memória de guerras passadas, querem ter a certeza de que não voltará a haver conflito e de que terão acesso a melhores condições de vida



A votação traz o medo de um regresso a guerras passadas



As novas estradas estão a cruzar o Huambo e os camponeses que habitam uma das províncias mais devastadas pela guerra esperam que, a seguir ao asfalto, venha a distribuição justa das riquezas do país.




"A riqueza não está a ser bem repartida e somos penalizados. Não chega nada aqui", lamenta José Massuavo, camponês residente na aldeia de Candiobolo, no município de Kaala, a uns 40 quilómetros da cidade do Huambo."Mas dá para notar que, para quem trabalha no Governo, no Estado, o benefício é visível", acusa.






Em Candiombolo residem 380 pessoas. Algumas delas, as mais velhas, formam um semi-circulo para explicar, à vez, que esta aldeia de casas de adobe e telhados de capim tem solos fracos e que, entre estações, a comida escasseia.




Apesar do quadro de pobreza, estas pessoas têm uma consciência do potencial de Angola e, a mais de 600 quilómetros da capital, sentem que o caminho do desenvolvimento não chegou ainda a Candiombolo.
"Angola está preocupada com eleições, porque os penalizados somos nós mas agora podem ser eles - para não enriquecer sempre os que já têm", comenta Adelina Cavava, que vai dando de mamar ao seu mais novo filho.






Em Luvemba, noutro ponto da província, ainda se vêem vestígios da destruição da guerra, com buracos nas paredes por onde se vislumbram mulheres de pilão em punho a moer o milho. A água corre nos chafarizes, a electricidade produzida num gerador chega a quem tem dinheiro para a pagar.






A escola domina a localidade e, à hora do toque de entrada, dezenas de crianças sobem o morro vestidas com batas brancas e com as cadeiras de plástico em que se sentarão durante as aulas. Perfilam-se em frente de uma bandeira gasta da República de Angola e cantam o hino.



À mesma hora, debaixo de um enorme jango de madeira (construção circular para reuniões comunitárias), Marta Coayele reconhece que mudou muita coisa nos últimos três anos nesta comuna, destacando as melhoras na produção agrícola e na educação, o seu tema preferido: "Sem educação como o Homem fica? Um animal selvagem, pessoa analfabeta, pior do que um animal feroz."





O pensamento desta mulher de 42 anos associa eleições e guerra. "Se formos ver bem o que aconteceu em 1992, sobra sempre uma interrogação: a guerra vai acontecer ou não?"

Eugénio Cangano, a seu lado, está disponível para lhe explicar que "agora existe um único exército" e outro Eugénio (Ucuasape) acrescentará que as divergências fazem parte do jogo político.


Mas se a votação traz o medo de um regresso improvável a guerras passadas, por outro lado, Marta Coyele faz questão em alargar a sua ambição: "A paz e a tranquilidade não chegam, Angola é um país rico, toda a riqueza devia beneficiar todos."


"Andam na escola e sempre limpos. Não pode ser, Angola tem de ser para todos. Angola é para todos", continua Eugénio Ucuasape.


Os 89 mil habitantes do município de Londuimbali, também no Huambo, vêem as estradas a cortar a paisagem cercada pelas montanhas do Alto Hama. O asfalto brilha, mas a água escasseia. "Primeiro, prefiro a água, quanto à estrada posso ir a pé mesmo", diz Carlos Lomeke, um camponês de 22 anos.





Há cânticos a ecoar em todos os lados, a luz do sol está em toda a parte. Católicos de um lado, evangelistas do outro, os adventistas já tiveram o seu dia e descansam. Dia de missa a menos de um mês das legislativas. Lomeke canta: "Aleluia!"

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