domingo, 1 de dezembro de 2013

Angola/Moçambique:"Vimos logo que não havia sobreviventes. Está tudo em pedaços"


Queda de avião das Linhas Aéreas de Moçambique faz 33 mortos, entre os quais seis portugueses, um deles luso-brasileiro.Um comissário da polícia da Namíbia descreveu ao PÚBLICO o cenário que as equipas de salvamento encontraram.



Durante quase 24 horas, as famílias dos passageiros e da tripulação do voo TM 470 das Linhas Aéreas de Moçambique ficaram com as suas vidas em suspenso.Mas a brutalidade da notícia, que se ia anunciando com o passar do tempo, acabou por ser confirmada ao início da tarde deste sábado: o avião Embraer 190, que partira de Maputo na sexta-feira de manhã e que tinha como destino Luanda, despenhou-se no Parque Nacional de Bwabwata, na Namíbia.
 
Quando as equipas de resgate chegaram ao local, o desfecho era evidente: nenhum sobrevivente, 33 mortos, entre os quais seis portugueses, um deles luso-brasileiro.
O alerta foi dado ainda na sexta-feira por habitantes da região do Parque Nacional de Bwabwata, localizado numa estreita língua de terra entre Angola e o Botswana, conhecida como Faixa de Caprivi. Eram 14h (12h em Portugal continental) e a LAM já tinha perdido o contacto com o avião havia 30 minutos.
"Fomos alertados por habitantes locais que um avião tinha caído no Parque Nacional de Bwabwata. O fumo era visível em toda a área", disse ao PÚBLICO o vice-comissário da polícia da Namíbia na região de Kavango, Willy Bampton.
Custa-lhe descrever o cenário que as equipas de salvamento encontraram: "Vimos logo que não havia sobreviventes, havia corpos espalhados por todo o lado. Dá a impressão de que o avião explodiu assim que se despenhou. Há destroços espalhados por uma área superior a 500 metros, está tudo em pedaços."

O alerta foi dado às 14h, mas a chuva e a densa vegetação impediram uma chegada rápida ao local. As operações foram interrompidas com o cair da noite e só neste sábado, por volta das 10h locais, foram avistados os primeiros destroços.
O vice-comissário não sabe dizer nem conseguiu recolher nenhum testemunho sobre o que poderá ter causado a queda do avião. "Não há muita gente a habitar naquela região, poucas pessoas podem dizer o que realmente aconteceu."

Certezas só nos próximos dias, com a análise às caixas negras, recolhidas pelas equipas da Agência Nacional de Aviação Civil da Namíbia. Entretanto, as operações no terreno vão também continuar, "para remover os destroços e recolher todos os corpos", disse o responsável.

"Não estava a chover muito"
 
Nesta altura do ano, é comum chover naquela região, pelo que os voos estarão preparados para fazer frente a essas condições – o vice-comissário Willy Bampton confirma que chovia nesse dia, "mas não estava a chover muito".

Contactado pelo PÚBLICO, o vice-director da Agência Nacional de Aviação Civil da Namíbia e responsável pelos serviços meteorológicos, F. Uirab, disse que a organização vai reunir-se no domingo de manhã e recusou-se a prestar mais declarações, confirmando apenas que as caixas negras foram encontradas.

O jornal moçambicano A Verdade avança que o piloto "era um moçambicano com larga experiência aos comandos de aeronaves da LAM, com mais de 4000 horas de voo".O jornal escreve ainda que o piloto era chefe de operações e instrutor de voo e não era a primeira vez que comandava um voo entre Maputo e Luanda.Para além do piloto, os comandos do avião estavam também entregues a um co-piloto que, "apesar de jovem, tinha experiência de voo, com pelo menos 1000 horas" em aparelhos da LAM.

O A Verdade cita também um piloto moçambicano "com larga experiência", que disse ter informações sobre uma queda abrupta do aparelho. "A informação que tenho é que o avião desapareceu do radar a 5 mil pés por minuto, portanto vem a cair, não vem a descer normalmente, é uma descida quase que em queda", cita o jornal moçambicano.

O avião, um Embraer 190 de fabrico brasileiro, foi adquirido pela LAM no final de 2012.
Foi um dos mais trágicos acidentes aéreos da história da aviação moçambicana – em 1986, a queda de um Tupolev na África do Sul fez 34 mortos, entre eles o então Presidente do país, Samora Machel.

Número de portugueses com dupla nacionalidade pode subir

Neste sábado, o Governo português está ainda a contactar os familiares das vítimas, pelo que não foram avançados muitos pormenores sobre os passageiros.

Contactado pelo PÚBLICO, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, disse apenas que "várias" das vítimas viviam em Portugal, especificando que o cidadão luso-brasileiro era da zona de Rio Maior.
José Cesário disse ainda que as autoridades portuguesas estavam a tentar confirmar se entre os restantes passageiros havia outros cidadãos com dupla nacionalidade. Além dos cinco portugueses e do luso-brasileiro, a lista de passageiros inclui ainda dez moçambicanos, nove angolanos, um francês e um chinês.

"Estamos a ponderar a deslocação de pessoas para a Namíbia e estamos em contacto com cada família para ver o que será preciso", disse ao PÚBLICO o secretário de Estado das Comunidades.

Cavaco Silva envia condolências e Moçambique abre inquérito
Em comunicado, o Presidente da República, Cavaco Silva, enviou condolências às famílias das vítimas da queda do avião, dizendo ter recebido a notícia "com grande consternação".

"De acordo com a informação apurada até ao momento, seis cidadãos portugueses estariam a bordo. Os serviços diplomáticos e consulares nacionais têm estado em contacto com as respectivas famílias e com as autoridades dos países envolvidos, com vista a seguir todos os acontecimentos de forma muito próxima", lê-se no comunicado.

"Neste momento difícil, quero apresentar às famílias portuguesas envolvidas a expressão da minha muito sentida solidariedade", assinala o Presidente da República.
Depois de a queda do aparelho ter sido confirmada, o Governo de Moçambique anunciou a abertura de duas investigações, uma nacional e uma internacional.

"O Governo tomou de imediato medidas destinadas a fazer o acompanhamento do acidente e apurar as suas causas. Uma comissão de inquérito foi constituída e vai juntar-se à comissão internacional de inquérito a ser liderada pela Namíbia, que é o país onde ocorreu o acidente", anunciou o ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Gabriel Muthisse, no final de uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.
 
 
Fonte:Público.PT