terça-feira, 15 de abril de 2008

Sem Meias Palavras: Correr depressa

Fonte:semarioangolense

Por: Fernando Macedo

Há motivos bastantes e de sobra para estarmos preocupados com o futuro de Angola. Trinta e dois anos após a independência, Angola tem de recorrer à importação maciça de mão-de-obra não qualificada e o sistema de ensino, a todos os níveis, está de rastos – quererão alguns justificar tais factos com a guerra. Não estou de acordo! O que constitui, na minha óptica, motivo de maior preocupação é o não entendimento de que o que impulsiona o progresso e desenvolvimento das nações (a riqueza das nações) é a qualidade da formação dos recursos humanos.



É por demais sabido que não são os recursos naturais o factor determinante da criação da riqueza das nações. Por termos um sistema de ensino que não tem oferecido, a um nível estatisticamente aceitável, competências (conhecimentos e saberes vários) a quem por ele passa, somos um país subdesenvolvido, que, ao contrário das nossas boas intenções, está a aumentar o seu nível de subdesenvolvimento. Os vários mercados constituem-se com base nas competências dos recursos humanos, sem os quais não podem existir, e conseqüentemente, sem os vários mercados, não pode também haver diversificação dos diversos sectores da economia nacional.

O nosso crescimento económico deve-se sobremaneira à crescente extracção de petróleo e à consolidação deste mercado, fazendo da nossa economia uma “économie rentière”. Para a diversificação da nossa economia é necessário a formação de vários mercados, que por sua vez dependem das competências de quem os constitui, os recursos humanos. A política que temos é a de construir apenas infra-estruturas do sistema de ensino, sem cuidar de um factor determinante, a qualidade do ensino.

Resultado, temos milhares de pessoas com diplomas e certificados que na prática não sabem nada ou sabem muito pouco – salvo sejam as excepções, que são estatisticamente irrelevantes perante o que é mais frequente, a incompetência dos diplomados e certificados pelo sistema de ensino como tendo terminado diferentes níveis de ensino com sucesso. Por não produzirmos ou produzirmos pouca ciência, operamos com a lógica das constatações empíricas da verosimilhança.

Aqui entre nós há quem pense que o factor determinante é termos um centro autoritário de decisão – uns poucos ou um iluminado doutorado em tudologia, a mais recente das ciências – que promoverá uma nova-casta de empresários-patrícios que gerarão a riqueza da nação, tentando copiar o modelo das ditaduras de esquerda ou de direita; à semelhança, por exemplo, da China (ditadura de esquerda). Em bom rigor científico, constata-se que a riqueza das nações pode ser, indiferentemente, criada por regimes democráticos ou ditatoriais.

Contudo, em ambos, necessariamente, a chave do sucesso repousa num sistema de ensino a todos os níveis eficiente, produtor de competências efectivas dos recursos humanos.

O sucesso da China, em minha despretensiosa leitura, deve-se aos seguintes factores: um sistema de ensino que oferece competências várias de qualidade a quem por ele passa, constituir o maior mercado nacional (é o país mais populoso do mundo), ter custos de produção mais baixos comparativamente a outros países (pelos menos, em relação às democracias liberais ocidentais) e a procura constante do maior lucro possível por quem detém disponibilidade para investir (essencialmente investidores das democracias liberais ocidentais).

Se prestarmos atenção ao caso chinês, o sistema de ensino de qualidade é determinante, combinado, é certo, com outros factores. No caso de Angola, no que concerne ao ensino de qualidade, se quisermos recuperar o tempo perdido, devemos gastar não mais do que três anos promovendo uma reforma (para ontem) do nosso sistema de ensino, que deverá ser muitíssimo exigente quanto à qualidade. Podemos aprender a fazê-lo com países como a Índia, a Finlândia e outros mais... Temos de acabar com a cultura da promoção da ciência tudologia, com a cultura do recurso aos iluminados-por-procuração, com a cultura dos símbolos-da-mediocridade da nação e de outras abordagens próprias do subdesenvolvimento em que estamos mergulhados.

Promover a cultura do trabalho árduo, competente, e acabar com essa intrusa cultura dos comités (do partido) de cientistas e etc., que acorrenta o verbo criativo e perpetua a mediocridade... Concomitantemente, é indispensável deixar de pensar Angola como um projecto de poder. Angola deve caminhar para uma sociedade aberta em que o espaço público (democrático) permita corrigir os vícios e seleccionar as idéias, estratégias e políticas públicas propulsoras do progresso dos angolanos. Angola será uma boa terra para nela vivermos se o maior número possível de angolanos estiver capacitado a fazer parte do maior número possível de mercados, garante de uma economia estruturalmente diversificada.

Para tal é preciso que o nosso sistema de ensino forme angolanos, dotando-os de competências efectivas. Corramos depressa, mas mesmo depressa, e com paixão para a institucionalização de um sistema de ensino de qualidade e com níveis elevados de exigência, para que possamos «[..] criar com os olhos secos»!




Comentário:Subscrevo e assino por baixo, esta linha de pensamento.Na verdade a base do progresso, é cada vez mais dirigido para a competividade e competência das mesmas.Se um país e o seu povo, não estiverem convenientemente preparados com formação adequada para a exigência das competências, para enfrentarem as circunstâncias a qualquer nível, no sentido de fazer cada vez mais ( trabalho árduo) e melhor (qualificado), correm o risco de viverem dependentes de terceiros, para a sua evolução.

Haja vontade e separação do poder político, e dos pseudos doutores do facilistismo, cuja a sua formação é duvidosa para " queimarem os diplomas e certificados " de quem pensa que sabe muito, mas na prática não sabe nada, atrasando e impedindo o desenvolvimento e o investimento na formação de CAPACIDADES COM NÍVEIS DE EXIGÊNCIA ELEVADOS.

Investir na contratação de quadros altamente capacitados, e bem remunerados, cujos os níveis de exigência terão que estar devidamente comprovados e certificados com "PROVAS DADAS" internamente ou exteriormente.Investir na qualidade do ensino.Nas exigências ao acesso de nível superior.Os melhores dos melhores.

Qual é o interesse em construir uma infra-estrutura de luxo, quando o seu interior está recheado com pessoas sem qualidade e qualificação.A curto prazo, o luxo ocasiona o caos.A má qualidade.

Ninguém nasce ensinado.A aprendizagem, atravesa várias etapas, em todas elas existem obstáculos fáceis e dificeis de ultrapassar.São as exigências que criam dificuldades na ultapassagem dos obstáculos, à medida que se vai progredindo de uma fase para outra.

Os que pensam, que nascem ensinados, que sabem tudo, são aqueles cujas as suas capacidades para ultrapassarem as exigências das várias etapas, foram conseguidas contra natura, à custa de esquemas, comprovados e certificados, através da compra de um papel carimbado, com a chancela da nação.São esses, que ao ocuparem lugares de destaque ou de poder, impedem a qualidade e a eficiência das capacidades.Atrasando o desenvolvimento.Angola está minada, com gente que pensa que nasceu ensinada e sabe tudo.



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