domingo, 6 de abril de 2008

Uma angolana "prisiricolga" em Lisboa

Uma história magnífica que me caiu na caixa do correio, sem autor, anónima, que se baseia num relato pessoal de uma prostituta angolana a residir em Lisboa. Desconheço a veracidade, sei apenas que é uma narrativa magnífica, daquelas que ouvimos a quem sabe muito da vida e quase nada de letras e alfabetos e que neste caso tem como protagonista uma mulher que se diz ser “prisiricolga” em Portugal, porque leva os clientes para o quarto da pensão e eles pagam-lhe para falar em vez de quererem os seus serviços sexuais.


Vamos à história: a protagonista chama-se Simara e é uma prostituta angolana que imigrou para Portugal e que frequenta uma “leitaria velha e suja” na rua de S. Paulo, na baixa de Lisboa, onde, diz o autor do texto, se cruzam, ao princípio da manhã, quem acaba de trabalhar de noite com quem vai trabalhar de dia. “Taxistas em fim de turno, putas, policias extraviados, pintas decadentes, emigrantes clandestinos desempregados e eu. Cervejas convivem com meias de leite pacificamente sobre as mesas de mármore”, descreve o autor anónimo.

Foi nesse estabelecimento que Simara, numa bela manhã, enquanto o contador da história bebia uma meia-de-leite e fazia tempo para ir trabalhar no escritório, decidiu desabafar e retratar os portugueses que ela melhor conhece - os seus clientes – comparando-os com os compatriotas angolanos. Os que também imigraram para cá e os que ficaram lá. Em comum têm todos os facto de alguma vez se terem deitado com a “baixa e arredondada” mulher a troco de dinheiro.

Conta o autor que Simara “tem os olhos azuis plásticos constantemente a lacrimejar das lentes de contacto e, na cabeça, usa uma cabeleira com cabelo preto desfrisado. Sei que tem lentes e cabeleira porque às vezes, quando a leitaria fica mais vazia, a Simara vai tirar as lentes e a cabeleira… quando isso acontece as botas e a eterna mini-saia destoam do seu rosto vulgar de mulher cansada.”

No dia em que decidiu desabafar, aparentava estar alcoolizada e tinha modos de andar a “facturar em cima do subsídio de Natal”, arrisca o narrador, que diz conhecer a mulher de se cruzarem na leitaria, o que lhe granjeou estatuto para ouvir as confissões da prostituta, como alguém que não é amigo mas é pelo menos um velho conhecido.

No cenário aparece uma outra prostituta, mais nova e aparentemente toxicodependente, o dono da leitaria, que é surdo, e o autor, que faz descrições longas em discurso directo da “nossa” mulher, o que indica que muito texto, a corresponder à realidade, terá sido reproduzido de memória.

A história propriamente dita começa quando Simara, sem se perceber bem porquê, talvez pela língua solta à custa do álcool ingerido noite fora, largou a frio, em tom de desabafo, para os três presentes: “- Em Luanda aprendi o ofício de pu.., mas em Lisboa aprendi [o] de prisiricolga.
- Psicóloga !!! - corrigiu a agarrada na sua voz sonolenta”, relata o homem da meia-de-leite.
- Isso prisiricolga.”

Segue-se a explicação. Em Angola, os homens, quando querem agradar aos amigos não os convidam para jantar ou almoçar, como cá. Isso, conta ela, faz-se tanto com amigos como inimigos, conhecidos ou com quem nunca se viu. Para os que são mesmo chegados, oferece-se uma ida às meninas e uns momentos de sexo, pagando, mesmo que sejam três ou quatro. No fim perguntam aos obsequiados: “”Então gostaste desta, pá? ” Se eles reclamarem, a bronca levanta-se. Simara diz que alguns dos que pagam querem o dinheiro de volta se as profissionais não satisfizeram os amigos, uma bronca das antigas pra as mulheres.

Mas relata ela que a vida de uma prostituta em Luanda não é só passada com quem paga aos amigos para se “satisfazerem”. Há os emigrantes, os que estão longe das mulheres com quem vivem, enfim… Curiosamente, a angolana incomoda-se mais com o que veio encontrar em Portugal. “Aqui os homem que vem nas menina são diferente. Vem sempre sozinho. Parece que não vem para fudé. Tem imigrante angolano que vem comigo para falar das coisas que tem em Angola e das coisa que já tem em Portugal e já comprou e que vai comprar. São dos que fo... e depois fica a conversar alto para impressionar as menina. A mim não faz efeito essa magia!!! Desses eu não gosto mesmo porque normalmente nunca querem pagar logo, logo. Depois perguntam se gostei. O que é que tu vais responder a isso? Vou responder a verdade? Eu gosto é de dinheiro?? Não pode. Então se respondo que sim, mesmo por delicadeza vão-me logo a querer o dinheiro de volta. Tchiiii pá!!! Com parente e compatriota assim, aka que fica difícil!!! Depois também há os homem portugueses, esse são os piores pá!!!”

Destacam-se na narração os antigos combatentes da guerra colonial. “Depois todos os que são kota vem contar historia de tropa. Sobem comigo para a pensão e quase que f*dem a correr só para ficar a falar da tropa que fizeram em Angola. Das comissão, dos camarada, dos barco. Da guerra mesmo não falam e todos diz que não são racista e todos diz que não disparou tiros nem matou ninguém. Mas sei mesmo que é mentira, pá!!! Eu quando era canuca em Malange aprendi na escola dos pioneiros tudo sobre a guerra de libertação. Agora vêm os portugueses e dizem que não mataram.”

“Já tinham-me avisado que os portugueses gostavam das angolanas, mas não tinham-me dito que gostavam da gente para ficar a dar conversa fiada!!! Por isso, eu digo, aqui em Lisboa eu não sou pu..., sou prisiricolga.”

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