quinta-feira, 17 de abril de 2008

"Há risco de Angola tentar controlar empresas a operar no país

Fonte: Diário de Notícias

Entrevista. Jacques dos Santos, sócio da francesa Mazars


Com a experiência que tem no mercado angolano, vê um futuro de estabilidade política e económica para o país?
Há um pouco de tudo isso. A estabilidade política é decisiva para se iniciar a sua reconstrução. Mas o que acho fundamental para os investidores em geral e, em particular, para uma empresa como a nossa é sentir que começam a existir regras a todos os níveis, ou seja, que os conceitos económicos mundiais começam a ser aplicados em Angola. E há, cada vez mais, uma preocupação de modernização dos conceitos económicos. Vou dar um exemplo: até 2007 Angola pedia dinheiro em troca de petróleo e hoje já não é assim. Isto pode parecer pouco importante, mas significa que estamos a entrar numa nova era.

Que oportunidades oferece o mercado angolano?

Tudo está por recuperar. Ou seja, tem um conjunto muito vasto de necessidades e a cada uma delas corresponde uma oportunidade de negócio. Como é um país que tem petróleo, obviamente, que ali estão as oportunidades.

Mas também há riscos?

Enormes!

As eleições legislativas e presidenciais podem agravar esses riscos?

Há uma expectativa em relação às eleições. Mas também há uma vontade muito grande dos EUA e da Europa em tudo fazer para que as coisas corram bem. Espero que assim seja, porque Angola tem todos os trunfos para conseguir ser um grande país. Tem riqueza, uma população jovem e regras. Obviamente que também há muita coisa por fazer ao nível da administração e da formação de pessoas. Agora, o risco político já não existe.

Quais são as preocupações?

As preocupações para quem investe em Angola são muitas. Há em primeiro lugar um risco de o Governo angolano se sentir tentado a "angolanizar" a economia, ou seja, a controlar o capital de empresas estrangeiras a operar no mercado. Isso seria dramático para o país. Mas o que se está a fazer em relação aos bancos estrangeiros (onde o Estado, através de empresas angolanas quer ter uma participação significativa) é preocupante. Há também um grande risco cambial para a economia angolana, que tem a ver com a crise mundial. Porque Angola exporta petróleo, pago em dólares, e importa quase tudo o que consome, nomeadamente da Europa, ou seja, em euros. Por outro lado, acho que o desenvolvimento de Angola tem de passar também por uma maior liquidez dos bancos angolanos. O que quero dizer com isto é que contrair um empréstimo hoje junto das entidades financeiras naquele país é muito complicado. Por isso, recomendamos aos nossos clientes, que se lembrem que o endividamento tem de ser feito em Angola com o risco país, com uma taxa de juro que oscila entre 8% e 12%. E todos os cálculos de investimento devem ser feitos com estas regras. Outro aspecto muito importante para os investidores, em particular para as empresas portuguesas, é a escolhas das pessoas que colocam à frente dos seus projectos lá. Quem quer investir em Angola deve mandar para lá os seus melhores gestores, alguém com mentalidade de empresário, para estar num mercado onde as regras são o que são, mas podem mudar, e onde as condições logísticas são muito difíceis.

Porque é que faz esse alerta para as empresas portuguesas?

Porque as empresas portuguesas vão para Angola com a confiança de quem fala a mesma língua e como se fossem para casa. Vão mais confiantes e ponderam menos. Ora, há muitas oportunidades de negócio naquele país, mas também há muitas oportunidades de estampanço. Apesar disto, acho que hoje já se ponderam mais os projectos.

Em que sectores acha que os portuguesas podem ter mais vantagens competitivas?

Na banca e na construção estão muito bem e já fizemos o que tínhamos a fazer. Mas os empresários nacionais devem ter consciência que Angola não é só Luanda. É um país que tem projectos de desenvolvimento muito importantes e que agora até contempla no Orçamento de Estado afectações de receitas para os municípios, ou seja, já nem tudo o que é negócios se discute ao nível do poder central. Os portugueses não têm olhado para a agricultura, onde têm experiência, nem para a saúde, onde também podem dar cartas. Outros exemplos são o sector das pescas e dos serviços. E como a nossa relação com Angola ainda é ambígua, com pouca frontalidade, porque não esquecemos o passado, penso que o investimento de empresas privadas na formação de angolanos seria muito importante para ajudar a ultrapassar este problema.

Que barreiras complicadas enfrentam as empresas em Angola?

Os vistos é uma das principais. Como é que o Governo pode estar a incentivar o investimento estrangeiro em Angola, se depois não faz um esforço de investimento nos seus quadros e coloca problemas aos investidores que precisam de lá ter gente com vistos de trabalho. Outras das barreiras são os custos demasiados elevados de tudo e as dificuldades logistícas, nomeadamente de transporte.

Não acha que já era tempo de o Governo ter feito mais para melhorar as condições de vida em Angola?

As performances macroeconómicas de Angola são extraordinárias. O Orçamento de Estado (OE) de 2008 prevê um défice de 8,3%, mas eu até acho que eles vão ter um superavit muito importante.

Porquê?

Porque as receitas vão ser superiores ao previsto, graças à cotação do barril de petróleo, e porque as despesas vão ficar aquém do estimado, porque o Governo não vai conseguir lançar todos os projectos . Acho que, pelo menos, já se podia ter feito mais pela formação de pessoas, uma área vital, e no saneamento básico.






Comentário: Para quem tem sonhos de investimentos em Angola, esta entrevista é um bom indicador.Nem tudo é um mar de rosas.Inclusive nas entrelinhas, por vezes até parece querer transparecer, que os investimentos devem ser em "grande" e bem segurados, pois caso contrário o "pequeno " não se safa e corre sérios riscos, numa eventualidade dos ventos e marés alterarem-se para uma grande tempestade.Para os que têm meios, para apostarem em grande, numa eventualidade de surgirem prejuízos, a longo prazo, recuperam.Para os que não têm meios, e a sua aposta só pode alcançar o nível médio, o caso é bem diferente, pode ser catastrófico.Os prejuízos podem reduzir a "pó", todo o investimento, atirando para a ruína, os que desafiaram a aposta, de apostar em Angola.

O risco de investir em Angola, é como aquela velha história dos " amantes ".Se num contrato de casamento, um dos intervenientes dá a facada, anulando o contrato.O amante prevaricador, se proventura existir um novo ambiente onde possa prevaricar, não rejeitará a hipótese de voltar a dar a facada no contrato, se tirar dividendos da sua anulação.

Tudo isto para dizer.Angola já deu, por diversas vezes, exemplos de que é um " amante casamenteiro" perigoso.De um momento para o outro, acorda mal disposto, e anula todos os contratos, desrespeitando todas as leis e regras do acordo do casamento.Se tal acontecer, nem mesmo as chancelarias nem as comunidades internacionais, poderão agir no sentido de exigerem o cumprimento do contrato com direito indemnizações por danos causados.Pura e simplesmente, porque Angola é SOBERANA, e não paga um kwanza que seja, ao par (desculpem a expressão) "encornado".O divórcio entre as partes (ofendidos) é litigioso e demorado (arrastado).

Meus amigos, esta teoria aprendi, na escola angolana dos honestos/desonestos.Um dia, sim ... está tudo bem e recomenda-se.No outro dia, não ... põe-te andar daqui para fora.Estamos fartos dos imperialistas a tentarem " ditar e a impôr as suas regras ".

Nunca esquecer, que o status mais elevado da sociedade angolana, é a corrupção.A irradiação deste status da sociedade angolana, vai levar décadas a ser concretizado.Assim como, vai levar décadas a desminização e o desarmamento do país.Alguém sabe ao certo, quantas minas e armas existem espalhadas pela Angola imensa? Tudo o que se sabe, é baseado em estimativas.Para os mais atentos, basta-lhes dar uma vista de olhos pelo Jornal de Angola / Jornal Oficial do governo e do MPLA e contastar que as notícias divulgadas acerca da entrega de armas, têm mais a ver com a propaganda política do governo e do MPLA.Até porque, o número de armas supostamente entregues, comparado com as milhares que ninguém sabe onde estão, é uma gota de água, que em termos estatísticos nem 0.01% representam.As notícias sobre a recolha de armas, aparecem com segundas intenções.Mas na verdade, ninguém tem provas.A entrega é toda voluntária, mas não existem fotos testemunhais que comprovem a sua entrega.Se eu quizer uma foto de armas, fácilmente encontro na net.Inclusive, vi algures uma reportagem feita em Angola, precisamente sobre a entrega de armas.Tudo o que foi possível ver, era policias armados e a população civil a circular nas cidades do interior, sem qualquer armamento.Isto é, o texto da reportagem, não coincidia nem demonstrava ou comprovava a entrega do dito armamento.O único armamento visível, era o armamento pessoal da polícia.Tentando transparecer a entrega de algo que ninguém conseguiu ver.Estratégias...

Estar em Angola.É estar, atento a tudo.Não se pode dar muita credibilidade, à máquina partidária do MPLA, que suporta o poder em Angola.É preciso ter muita atenção à manipulação das informações.

Mais vale prevenir que remediar.Não dar muita confiança.Desconfiar de tudo e todos.

Custa-me bastante, falar sobre isto.Mas é o meu dever ( mesmo que infundado) de alertar, todos aqueles que nunca passaram, consequentemente viveram o pesadelo de uma mudança radical do dia para noite, num país desconhecido onde as regras do jogo, só alguns conhecem e fazem delas o que querem.

Se começarem a ver partir, para destinos fora de Angola, um ou dois meses antes da data prevista para as eleições, pessoas que habitualmente não viajam.Se começarem, a ver partir os familiares (mulheres e filhos) de pessoas próximas, colegas de trabalho angolanos, é sinal que eles estão preocupados que algo poderá vir acontecer.Se eles, não se sentem seguros, os restantes também não devem estar.

2 comentários:

ISAKSSON disse...

mto interessante este artigo visto que o meu trabalho de fim de estudo é gestao do risco cambial, gostaria de mais informaçoes deste genero porque estou distante de angola.mto interessante mesmo

ISAKSSON disse...

mto interessante este artigo visto que o meu tranalho de fim de estudo é gestao do risco cambial em angola. aproveito tmb esta oportunidade pra pedir se havaer + informaçoes que publiquem para q eu poça obte-las. mto interessante mesmo este artigo.