sexta-feira, 14 de março de 2008

Avanço chinês traz benefícios e moralidade à África, diz acadêmico sul-africano

Fonte: macauhub


Macau, China, 10 MarA China tem estreitado cada vez mais suas relações comerciais e políticas com a África. Para o acadêmico sul-africano Garth lePere, a forte presença chinesa tem trazido vários benefícios aos países africanos e representa o início de uma “política moral” no continente.

Segundo lePere, a atuação da China na África não acontece “exatamente conforme as expectativas ocidentais”, mas tem propocionado “novas oportunidades econômicas e opções de desenvolvimento” aos países africanos.

“A maioria dos países africanos já têm laços diplomáticos formais com a China. Nos assuntos internacionais, também tem havido uma estreita cooperação entre a China e a África”, escreveu lePere recentemente no “Foreign Affaris Journal”, do Insitituo de Relações Exteriores do governo chinês (Chinese People's Institute of Foreign Affairs).

O “símbolo mais profundo das relações foi a China ter assumido um assento nas Nacões Unidas em 1971, quando de 26 países africanos deram seus votos favoráveis para tornar a situação possível”, afirmou o acadêmico.

A China tem acordos assinados com mais de 20 países africanos, oferece bolsas para 21 mil estudantes africanos e prometeu criar 30 centros de prevenção de malária no continente, lembrou o sul-africano em seu artigo, que foi reproduzido recentemente no jornal China Daily.

Enquanto isso, o Brasil ainda engatinha nas relações com o continente africano. No campo empresarial, poucas companhias brasileiras têm bases sólidas na África. Destaque para a mineradora Vale e as construtoras Odebrecht e Camargo Correa, com atuações principalmente em Angola e Moçambique.

“A presença de empresas brasileiras é bastante tímida. De acordo com dados do Banco Central do Brasil o investimento brasileiro direto (IBD) na África atinge apenas US$ 23 bilhões”, disse à Macauhub Luís Afonso Lima, economista da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Segundo Lima, isso se explica por dois fatores: “primeiro o movimento de internacionalização de empresas brasileiras é bastante recente. Além disso, há uma tendência de concentração de IBD na região latina”, explicou.

A China, por sua vez, está presente em diversos projetos em países africanos. Em infra-estruturas, tem forte presença nos lusófonos Cabo-Verde e Angola, por exemplo. Ao último, disponibiliza uma linha de crédito de US$ 7 bilhões, através do Export-Import Bank of China (Eximbank), segundo dados divulgados no final do ano passado pelo governo angolano.

Paralelamente, o Fundo Internacional da China (CIF, na sigla em inglês) prevê disponibilizar a Angola cerca de US$ 9,8 bilhões, de acordo com dados recentemente veiculados pelo Banco Mundial, com base em estatísticas do governo angolano.

“A forte cooperação entre a China e a África tem proporcionado uma série de benefícios para os países africanos desde 1956. Alguns projetos incluem a ferrovia Tanzânia-Zâmbia, de 1860 km, o Porto de Amizade na Mauritânia e o Centro de Convenções Internacional, no Cairo”, afirmou lePere no artigo.

Segundo lePere, que é diretor executivo do Instituto para o Diálogo Global, da África do Sul, “o Fórum para a Cooperação China-África (Focac), criado em 2000, tornou-se um mecanismo institucional chave através do qual a China coordena suas atividades na África”.

“O encontro mais importante do Focac aconteceu em Pequim, em novembro de 2006. Durante essa reunião, a China assumiu compromissos ainda mais profundos, como uma promessa de dobrar a sua ajuda à África até 2009”, escreveu o acadêmico.

“Embora o comércio da China com a África corresponda a apenas 3% do seu seu total mundial, o volume aumentou 700% na década de 1990, quase duplicou entre 2000 e 2004, e estima-se ter ultrapassado US$ 70 bilhões no ano passado”, disse lePere.

“Investidores chineses estabeleceram 800 projetos empresariais em 49 países africanos em um vasto espectro de atividades. O turismo é outro setor em crescimento”, acrescentou.

O acadêmico sul-africano ressaltou que a crescente presença de chineses em toda a África tem tornado cada vez mais proeminentes as barreiras culturais e de idioma. LePere sugere uma reflexão sobre “as questões sistémicas que fundamentam a emergência da China na economia mundial”.

Nos últimos vinte anos, a China alcançou um notável sucesso econômico na sua busca da modernização e reteve uma instintiva apreensão dos Estados Unidos nas suas relações internacionais. Não é de admirar que a China continua desconfiada de um mundo uni-polar dominado pelos EUA”.

“Em um ambiente ‘anárquico’, um país como a China tenderá a equilibrar a sua posição contra a dominação de um jogo hegemônico de soma zero entre vencedores e vencidos”, continuou o acadêmico.

LePere citou Yong Deng e Thomas G. Moore, que escreveram no “The Washington Quarterly”: “a China tem um novo papel da globalização em transformar o grande poder político da luta absoluta pela supremacia de épocas anteriores a uma forma de competição inter-Estados mais cooperativa, que aumenta as perspectivas de sua ascensão pacífica ".

O sul-africano defendeu que “em um mundo de interdependência global, o desenvolvimento econômico e político da China tem profundas implicações para outras regiões”.

“Economicamente, a reforma e abertura da China expôs o país para o mundo de oportunidades de comércio e investimentos numa escala sem precedentes, e o mundo está provavelmente em melhor situação para o seu crescimento liderado pelo mercado e inovações e eficiências nos métodos de produção”, disse lePere no “Foreign Affaris Journal”.

Por outro lado, o acadêmico sul-africano lembra que a China tem 1,3 bilhões de pessoas, então “a linha lógica deveria ser que a China não fosse contida, mas encorajada a se tornar um cidadão global responsável”, disse.

LePere continuou: “Vincent Cable e Peter Ferdinand têm argumentado que por motivos econômicos, ambientais e de segurança, uma prioridade agora seria trazer a China para o centro global e regional. Em um curto espaço de tempo, a China está começando a ter mais importância para o resto do mundo, como Japão, a União Européia ou os EUA".

Por estas razões, “a China precisa de um ambiente global pacífico para fazer avançar seu programam de modernização econômica e para enfrentar os seus próprios inúmeros desafios domésticos e realizar reformas imperativa como um país em desenvolvimento”, defendeu lePere.

“O que faria mais sentido seria que os países cooperassem mais intensamente em áreas-chave das relações internacionais, diplomacia e comércio que pudessem avançar a paz global, a estabilidade e a prosperidade”, sugeriu o acadêmico.

Para lePere, “uma base apropriada para a avaliação do papel da China na África não deve ser a realpolitik [expressão alemã para “política da realidade”, política baseada no pragmatismo] e estéril idéia de uma ‘China ameaçadora’, mas sim da dinâmica chinesa de um ‘crescimento pacífico’”.

O acadêmico sul-africano compara o que apelidou de "Consenso Pequim" – que seria a política chinesa para a África – ao Consenso de Washington (conjuntos de princípios e diretrizes que formam a política dos Estados Unidos para o continente).

“A China tem insistido na estabilidade como base da sua política externa, transmitida pelo valor de cinco princípios: sinceridade, igualdade e benefício mútuo, não-interferência, solidariedade e desenvolvimento comum”, escreveu lePere.

“Enquanto o Consenso de Washington suporta todas as características da arrogância do ‘fim da história’, o ‘Consenso Pequim’ está no coração do desenvolvimento, com destaque para as dimensões econômica, social e cultural. Em muitos aspectos, ele assinala uma mudança da política de poder para a política da moral”, disse.

“O empenho da China com a África não é exatamente conforme às expectativas ocidentais. No entanto, a sua capacidade de competir eficazmente com outros atores extra-regionais proporciona novas oportunidades econômicas e opções de desenvolvimento para África”, finalizou lePere. (macauhub)


Comentário : A política do desenvolvimento da China em África.China não dorme na formatura.É melhor os Estados Unidos mudarem de estratégia relativamente à China, e às condenações e violações dos Direitos Humanos.

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